Lembra?

“Toda vez que tento me perder,

Acabo me encontrando perto de você.

Pode me dizer, você faz isso por querer.”

Você se lembra daqueles dias em que passei noites chorando por você? Na verdade não foi bem assim. Porque eu não chorei por você. Eu chorei por mim. E sim, eu prefiro que isso soe egoísta a te dar os créditos pelo sal dos meus olhos vermelhos.

Chorei por mim. Chorei por não conseguir fazer isso dar certo. É claro que quando se trata dessas coisas que envolvem mais de uma pessoa, nunca se pode dizer que “fazer isso dar certo” dependa de alguém exclusivamente.

Mas é que você estava ali. Eu também estava ali. Você não me viu antes que eu me mostrasse a você. Eu despertei, eu toquei a campainha, eu dobrei o sino, eu gritei no seu silêncio.

E então você pareceu ter olhado, mas sem ter visto. E, mesmo hoje, não parece estar vendo. Mas eu continuo gritando – não no seu silêncio, porque o tempo de silenciar acabou. Todos gritam. Todos precisam ser ouvidos.

E quando me pergunto se você se lembra o que quero saber na verdade é: estou sendo ouvido? Ou ao menos fui ouvido em algum momento nesse tempo todo? E o medo da resposta que salta pra fora dos meus pensamentos e me gela o estômago:  não estou sendo ouvido e não, nem seque por um momento o fui.

Nâo que eu esteja te cobrando por algo, longe disso. Mas é que sinto um pesar nessa história toda de sempre falar e gritar e chorar e passar noites em claro, no escuro, onde seus olhos não alcançam.

Eu poderia saltar à luz, mais uma vez. Mas minhas curvas já não são mais tão exuberantes como outrora. Tenho, em parte, vergonha de parecer tão tolo novamente, e em parte, esse desgaste natural das coisas que se expõe ao sol, como as peles enrugadas á beira da praia nos domingos escaldantes, sabe? Toda aquela beleza plástica e morta que o tempo transformou em um belo câncer.

Me protejo dessa exibição toda, recolho minha voz no meu silêncio escuro que você não vê. Talvez não por incapacidade, talvez não por falta de vontade, mas que você não vê. E é aí que está o meu pesar.

A pena de estar tão perto e parecer tão longe, de querer lutar sem poder (ou de poder lutar mas não querer, eu não sei mais).

De qualquer forma, gostaria que você se lembrasse. Como aquelas partes de nossas vidas que um dia foram mal resolvidas e que permaneceram assim por todo sempre. Como aquela sombra que vai tomando mais forma quanto mais se joga luz sobre ela, eu não sei se você entende.

Gosto de ser lembrado, quem não gosta? Mas mais que isso: preciso que me lembrem, preciso ser algum pedaço de vida esquecida de alguém, só pra ser um pouquinho eterno. Mesmo que só por capricho.

Um comentário sobre “Lembra?

  1. APLAUSOS.

    Nós não fomos consultados. Em verdade, fomos deixados de lado, esquecidos pelo tempo e varridos para debaixo do tapete junto com a poeira dos velhos móveis. Fomos subjugados porque quisemos, fomos desamados porque nos submetemos e continuamos nesse estado porque a auto-comiseração é muito atraente, nos confia um olhar sublime de perfeição a que nos colocamos e afastamos a quem nos rejeitou, por carência, dor de cotovelo e et ceteras.

    Amei, Anderson, sua coerência me encanta.
    Te amo!

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